Em Breve Morreremos

Em breve morreremos

então corra logo

vai buscar o que é teu

vai buscar o que você esqueceu

entre as dores e friezas do mundo.

ame ou não

ame com toda a profundidade e força que teu coração suportar.

pega a estrada e não olha pra trás,

não olha pra trás.

falta você em cada canto bonito do mundo

falta você nas livrarias

falta você nos teatros

e no conjunto de retratos considerados tesouros nacionais ou maior

falta você no sonho que você adiou.

de qualquer forma,

o universo não dá a mínima

então grave seu nome

em cada lugar desse maldito palco

e morra feliz.

Em breve morreremos

então abraça forte

perdoa.

perdoa de novo.

perdoa de novo e de novo

até que não reste nenhuma magoa no teu peito, perdoa. perdoa. perdoa.

porque não há certeza sobre o amanhã.

|Declínio suave

Sobrevivo

mesmo quando penso que não posso aguentar nem mais um dia,

eu não consigo desistir de vez

porque a visão do sol nascendo ainda parece bonita daqui.

|Sobre a cabeça de um ansioso

Minhas pernas pálidas

caminham em direção a uma cafeteria

mas não uma qualquer

essa tem cheiro de café forte

arraigado no chão e nas paredes

tem uma mesa mal posicionada

quase na calçada

e eu tenho que encontrar o equilíbrio perfeito da cadeira

o pedido é sempre o mesmo:

um café muito doce e muito forte

como quem pede a dose mais forte

do bar mais louco da cidade,

mas sou só eu e meu blazer vermelho

você provavelmente não vai ver o desespero, mas está lá

além da falta de grana

além de todas as formas bonitas

que você possa considerar em mim

além da minha postura irônica

é mais profundo,

é tudo o que eles não mostram na TV,

tudo o que nunca é dito

por ser cru e sombrio demais.

Sobre cafeterias pseudo-parisienses

Uber falante

dentista, contas, fumantes

química, física, línguas

vestibular, concurso, pressão

cadernos, lembretes, insônia

remédios pra insônia, terapia

não, terapia não

estamos sem grana,

sem grana, o gás acabou...

- mas tem carvão!

- amém!

Estatística:

arte ou exatas?

arte ou um “emprego de verdade”?

arte

arte

arte pra quem?

arte solitária de garagem

fim de tarde

com choro reprimido no peito

recepcionistas lentos

poetas sem rumo

educação zero

miniaturas de vida

rastejando

por um 

pedacinho

de pão,

a cidade é um esgoto

um esgoto a céu aberto,

e eu que sou a louca?

Você merece muito mais do que essa espera, do que essa queda lenta.

Jannabi - For lovers who hesitate