Entre murmúrios e gritos, esse é meu espaço de vulnerabilidade, soltar meus sentimentos e meu lugar de expressar o que eu não consigo dizer em voz alta.

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Ltima Carta

Última Carta

Para: Matheus

Alguém já confundiu tanto os seus sentimentos ao ponto de você nem conseguir verbalizá-los? Alguém já te fez ter tantas dúvidas sobre tudo? Em algum momento, você já olhou para alguém e sentiu o coração palpitar mais forte? Antes de dormir, você já pensou em alguém, já se imaginou com essa pessoa, como seria tão bom ficar com ela? Já houve alguma vez em que você, genuinamente, gostou realmente de alguém? Tão genuinamente ao ponto de só querer estar perto dela?

Eu não sei você, mas é muito difícil ter um sentimento tão sincero por alguém ao ponto de você nem conseguir decifrar o que sente sobre a pessoa, menos ainda sobre si.

Genuinamente, desejo que esta seja a última vez em que gasto minhas palavras e minha sanidade por você. Desejo profundamente que gostar de você nunca seja mais uma das certezas que tenho.

Já perdi as contas de quantas cartas fiz para você, quantos bilhetinhos escrevi durante as aulas, morrendo de vontade de entregá-los a você. Perco as contas de quantas vezes, antes de dormir, pensei em quão legal seria se você estivesse comigo. Perdi as contas de quantos poemas escrevi pensando em você. Já perdi as contas de quantas vezes me senti ferida pela sua indiferença.

2019, quinta série. Eu nunca havia contado para uma amiga, para o meu irmão ou qualquer outra pessoa sobre ter uma "paixãozinha" por você. Tinha muito medo de que descobrisse e acabasse perdendo a sua amizade (não sei se "amizade" é a melhor definição para aquilo). Depois que você foi embora, francamente, senti um pequeno alívio; pensava que seria mais fácil me livrar de qualquer sentimento que tivesse por você. Eu acertei (pelo menos por um tempinho).

Quatro/três anos se passaram, e até esse ponto você era somente mais um alguém do meu passado, mas quando te vi sentado em uma das carteiras daquela sala em um dia aleatório de março, fiquei atômica. Era muito estranho te ver ali, depois de ter imaginado que nunca mais saberia qualquer coisa sobre você. Fiquei ali, tentando entender. Acho que foi partir dali que me dei conta de que as coisas sairiam do meu controle em algum momento.

Fiquei perplexa quando você disse que gostava de mim no quinto ano pro professor Tiago. Eu pensei: caralho, como assim ele também sentia o mesmo?! Acho que foi naquele momento em que eu parei de te achar um bobo. Foi naquele momento em que parei de ter certeza sobre mim.

Desde o início, a principal coisa que tenho sentido é dúvida. Quando você conversava comigo de forma casual e logo em seguida falava algo totalmente degradante. Ou de quando você fazia parecer gostar minimamente de mim e em seguida dar em cima de outra garota. Apesar de não poder culpá-lo por isso, confesso que me sentia mal, mas ainda sim, por algum motivo, minhas amigas vivam dizendo que você gostava de mim, e inclusive me infernizavam dizendo que eu sentia o mesmo.

Diante disso, eu e minhas melhores amigas apostamos. Elas juravam que você gostava de mim; já eu tinha certeza absoluta de que aquilo era um grande delírio da parte delas. Apostamos algo tolo: uma barra de chocolate. Confesso que, quando apostamos, eu te achava um grande idiota; imaginei que permaneceria pensando assim, mas as coisas mudaram.

Eu não sei o que ou o porquê, mas tem algo sob você que me atrai tanto. Não sei dizer se é esse seu jeito meio livre e revolucionário, ou se eram por conta de suas gracinhas modestas. Acredito que tenha sido pela nostalgia, principalmente. Apesar de ter sido muito relutante, os meus sentimentos tinham voltado, só me dei conta disso durante as férias de julho. Quando fui contar para minhas amigas, elas esboçaram a reação mais chata de todas, a única coisa que elas falaram foi: "a gente já sabe"

Uns meses antes de acabar o nono ano, eu já sabia que me mudaria para o Odilon, e com todos os meus sentimentos que estavam me levando á ruína e tendo em mente que dificilmente te veria novamente, com o encorajamento das minhas amigas decidi "falar" pra você sobre as coisas que eu tinha deixado guardadas. De início, pretendia escrever uma carta, e planejava te entregar no dia da formatura. Eu realmente escrevi ela. Mas no dia 16 de novembro (se eu não me engano), minhas amigas me pressionaram tanto falar pra você toda essa coisa, que acabei cedendo e pedi pra Geovana te contar. Quando ela me disse que você não sentia o mesmo, parte de mim já tinha certeza disso.

Na sexta-feira da semana seguinte, eu e a Júlia estávamos na sala enquanto tínhamos que estar no pátio ajudando os professores com culminância, e ver vc entrando lá com os seus amigos na porta, me zuando e tentando me pressionar a te beijar, fez eu te achar um idiota novamente, a diferença era que, além de te achar um idiota eu ainda gostava de você.

Depois disso, o ano acabou, não soubemos nada um do outro por um tempo, mas após oito meses, foi algo inesperado te ver naquela academia. Foi a primeira vez em que eu cedia um dos meus sábados para treinar, desde então decidi que iria lá mais vezes só pra te ver, mesmo que fosse por uns instantes. Eu me lembro de tudo. Me lembro do dia. 10 de agosto. Depois de umas horas que nos vimos lá, as 16hrs, mais ou menos, você me manda a seguinte mensagem: "até na academia me seguindo entt kkkk". Não esperava, mas algo nisso me fez sentir em casa de algum modo. Era como se, eu finalmente tivesse tendo a chance de me expressar, algo que eu queria muito ter feito no nono ano, porém não fiz.

Prontamente após isso voltamos a nos falar, e por incrível que pareça, foi tudo fluindo tão espontaneamente. Embora nos conhecemos em 2019, sinto que foi a primeira vez em que fomos de fato amigos. Foi algo autêntico.

Sempre gostei de ouvir músicas, ler livros ou qualquer outra coisa que falava sobre sentimentos, e, por isso tenho certeza que temos pontos de vista muito diferente sobre essa pauta. Acredito que para você, um beijo é um simples beijo. Desde sempre que quis guardar esse momento pra que acontecesse com alguém que realmente fosse especial pra mim. Pode parecer muito bobo, mas pra mim um beijo vai muito além de dois lábios que se tocam, pra mim um beijo é uma ligação, é um elo momentâneo entre pessoas. Se eu cedi isso pra você, foi porque eu achei que valeria a pena, e porque de algum modo, eu pensei que eu fosse especial pra você também.

Dar o meu primeiro beijo em um ponto de ônibus sujo e fedorento nunca esteve nos meus planos, até porque, definitivamente não seria o tipo de um cenário de uma cena de filme de romance, mas apesar disso, aquele momento foi realmente especial, pelo menos pra mim.

Quando nós fomos naquele ponto de ônibus, planejava no máximo te dar um selinho, porque quando eu me dei conta de que haveria uma possibilidade de nos beijarmos, eu tinha absoluta certeza de que seria algo péssimo, mas do contrário, acho que foi um beijo legal.

Parecia que o tempo tinha congelado, e era como se não tivesse nada a nossa volta. Depois que paramos de nos beijarmos, e eu olhei pra você, e tudo aparentava girar e girar, eu me dei conta de que tinha dado o meu primeiro beijo. Foi uma sensação sobrenatural.

Chega até mesmo ser meio cômico a forma como parece que tudo sempre volta a estaca zero. Geralmente , costumo acreditar que não exista escolhas certas e erradas, mas ta te enviando isso definitivamente vai ser um dos meus arrependimentos. Você me manteria como apenas um sigilo? Porque eu queria ter te mantido como um juramento. Sendo bem franca, achei um pouco cruel da sua parte me dar esperança pra depois me quebrar como uma promessa. Mas, o mais doloroso disso tudo, é que eu não fui somente recusada outra vez, dessa vez você tirou algo de mim, algo que, por mais tolo ou imbecil que seja, eu nunca mais poderei tê-lo de volta, o primeiro momento nunca mais voltará, e tenho certeza que pra você isso não tem a menor importância, inclusive, acho que é muito engraçado da minha parte ter escrito tudo isso, porque acabei de notar que apesar desse longo texto, sobre como eu me sinto, sobre como eu me senti, nada vai mudar de qualquer maneira, porque nada significou pra você.


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11 months ago

Mas infelizmente estou me acostumando

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11 months ago

"Era uma típica tarde de terça-feira chuvosa, eram em torno de 17 horas, e meus pensamentos estavam inundados pelo sofrimento de me sentir rejeitada. A campainha toca, me tirando daquele estado de transe. Vou até o portão e abro; quem está do outro lado? Ele, com um belíssimo buquê de cravos vermelhos e lírios. Seus olhos estavam inchados e suas bochechas, coradas. Ele estava chorando.

— Por favor, me perdoe. Eu deveria ter sido o cara que te daria um abraço quando você estivesse mal. Ser o cara que te faria declarações e te escreveria cartas. Ser o cara que demonstrasse orgulho em estar ao seu lado. Eu sei que um simples buquê é algo muito modesto quando comparado ao que você merece, mas eu realmente te adoro e quero fazer as coisas darem certo. Sei que já vacilei muito, sei que já te fiz chorar, deixei muitos pontos de interrogação na sua cabeça, sei que já fui idiota o suficiente para brincar com os teus sentimentos, mas eu realmente estou disposto a reparar toda a dor que já te causei. Vacilo com qualquer um! Vacilo comigo mesmo, mas se você me der uma chance, prometo ir até o abismo pela sua felicidade.

Naquele momento, lágrimas já se debruçavam em meu rosto; meu coração palpitava descontroladamente. Não tinha o que eu dizer. Eu o beijei. Nossas línguas se uniram; ele me envolveu em seus braços. Era um beijo tão intenso: era um beijo de saudades, dor e êxtase. Era um beijo de amor. Nos beijamos porque nos amamos. Foi a única coisa que poderia ser feita; foi o que devia ser feito.

O que ele me prometeu poderia até ser precipitado, mas eu sentia; eu sabia que ele cumpriria."

Tá vendo?! Tudo seria tão mais fácil se a vida fosse como um roteiro de comédia romântica. As coisas se complicam, vêm os desafios, o casal se separa, mas no fim, os dois percebem que foram feitos um para o outro e tudo se resolve como num passe de mágica. Às vezes — na verdade, sempre — desejo poder comandar a minha vida como os escritores controlam suas tramas. Queria ter o poder de descomplicar o complicado, aliviar as dores, fazer os momentos bons durarem e fazer com que todos os dias soassem como um sábado à tarde.

Quando me pego pensando no quão vantajoso seria pra mim ter o controle de tudo, me sinto culpada; afinal, ter o poder de controlar a vida tiraria totalmente a graça das coisas. Porque, apesar da dor, da frustração e do sofrimento, acho que a maior graça de viver é não ter certeza nenhuma do que está por vir.


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11 months ago

Ir pro litoral, uma água de coco e um reggaezinho eram tudo que eu precisava agora.


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11 months ago

Tudo o que eu queria agora era que alguém me desse um abraço bem forte e dissesse que tudo vai ficar bem.


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11 months ago

Saudades do tempo em que esses eram os meu medos. A medida que envelheço, sinto que o mundo real me atinge cada vez mais, e não tem pra onde correr.

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